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Creusant le clivage entre mythos et logos, la conception platonicienne de l’écriture comme pharmacopée a durablement influencé la pensée occidentale, demeurant particulièrement prégnante au Moyen Âge, surtout à partir du xiie siècle, à une époque où la voix perd progressivement son lien épistémique à la Présence et à la Vérité au profit d’une conception du savoir et du pouvoir de plus en plus médiatisée par une dynamique scripturaire. Un bref parcours à travers Les Miracles de la Sainte-Vierge (Gautier de Coincy) et Les Évangiles des quenouilles nous permettra de mieux saisir cette logique de la dualité intrinsèquement liée à la logographie comme remède et poison.

Increasing the rift between mythos and logos, the platonic conception of writing as a pharmacopoeia has had a long-lasting influence on Western thought. It was particularly influential in the Middle Ages, especially from the 12th century on, when the epistemic link between voice and Presence and voice and Truth progressively disappeared to the advantage of a conception of knowledge and power which was increasingly mediated by the dynamics of writing. A brief look at The Miracles of Our Lady (by Gautier de Coincy) and The Distaff Gospels will help us understand this dual logic and its intrinsic link with logography as both remedy and poison.

Acentuando a clivagem entre mythos e logos, a conceção platónica da escrita como farmacopeia teve uma influência duradoura no pensamento ocidental, continuando particularmente pregnante na Idade Média, especialmente a partir do século xii, numa altura em que a voz perdeu gradualmente a sua ligação epistémica à Presença e à Verdade testemunhada em prol de uma conceção do conhecimento e do poder cada vez mais assente no imaginário e nas dinâmicas da escrita. Um breve percurso pelos Miracles de la Sainte-Vierge (Gautier de Coincy) e os Évangiles des quenouilles permitir-nos-á compreender melhor esta lógica de dualidade intrinsecamente ligada à logografia enquanto remédio e veneno.